domingo, 27 de março de 2011

Ver-o-peso: 384 anos! Diário desvenda histórias do Ver-o- Peso

São duas da manhã e as mercadorias chegam em grande número para os feirantes e revendedores do Ver-o-Peso. Em frente ao Solar da Beira, vários carros descarregam sacos de frutas, legumes e verduras, carregados incessantemente por homens. Um surge com um tabuleiro onde estão à venda canetas, fósforos, tesouras, alicates e lanternas. “Tenho tudo que é de primeira utilidade, a caneta pro comerciante anotar, a lanterna pra focar o peixe”, diz Rômulo Souza, que há 15 anos sustenta as filhas como ambulante.
Na esquina da Boulevard Castilhos França com a avenida Portugal, dezenas de barcos se amontoam. “Isso aqui é um ‘rebuceteio’ de gente. Bandido e pai de família lutando. Tem uma magia”, filosofa seu Sena, em meio a anúncios de carne acebolada e correio sentimental disparados da sua ‘moto-som’. Na Pedra do Peixe, o ritmo é frenético: um caixote carregado de maparás pode nocautear os mais desatentos.
Doses de R$ 0,50 a R$ 10 de cachaça e conhaque são oferecidas para dar aquela aquecida. O vento é frio e o cheiro de pescado fresco se mistura aos temperos. Também atiça o olfato o café compartilhado por vários. Seu Zezé, “no mar” há 30 anos, diz que ali chega e ali finda. “Aprendi a vida aqui nessa beirada”, entrega. E é na beirada que não dá pra enxergar a água da baía: é grande quantidade de lixo e pele de peixe jogada pelos peixeiros.
Cachorros lambem as verduras. Os comerciantes que aproveitam para ‘fazer a feira’ não parecem se importar. Na Praça do Relógio, encarregados dos caminhões que transportam para outros mercados se unem aos feirantes para jogar cartas. Na Feira do Açaí, o tecnobrega soa. Rasas (espécie de cestas) são jogadas para os que trazem açaí nos barcos.
“Se tiver com massa tá bom, se tiver só casca não presta. Esse açaí é de Macapá, na verdade, da parte da Ilha do Marajó que fica mais longe e é melhor que o pouco açaí de inverno daqui”, ensinou o freguês Estevão Nascimento. Adiante, homens dormem em pedaços de papelão espalhados pelo chão. O manto da noite vai dando vez aos primeiros reflexos da manhã.
É hora de comer a “pata da vaca”, sopa revigorante oferecida com entusiasmo pelo comerciante Paulo Santiago. Os sinos da Catedral da Sé anunciam as seis da manhã e os ônibus já circulam intensamente pelas ruas. Agora são as barracas de comida que saciam a fome dos que passam e vivem naquele lugar onde pulsa o coração de Belém. (Diário do Pará)

Fonte: www.diarioonline.com.br 27/03/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário