terça-feira, 12 de julho de 2011

Com pouco controle, arqueologia vive explosão no Brasil

Crescimento de trabalho em sítios arqueológicos foi impulsionado pelas obras de infraestrutura do PAC Número de escavações aumentou 19.300% em 20 anos; falta de regulamentação do arqueólogo é problema.
Graças ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), nunca se fez tanta pesquisa arqueológica no Brasil. E nunca se perdeu tanto patrimônio arqueológico.
O aquecimento da economia e a explosão nas obras de infraestrutura fizeram o número de escavações saltar de 5 para 969 entre 1991 e 2010 ""um crescimento de 19.300%.
Somente após 2006, quando o PAC foi lançado, o aumento nas licenças foi de 130%. Este ano deve fechar com 1.300 autorizações ""o uma média de uma nova pesquisa a cada seis horas.
O número de cursos de graduação em arqueologia decuplicou na última década. E o de sítios arqueológicos registrados no Brasil subiu de 15 mil para 20 mil só no último ano, segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Esses números escondem um problema: 90% das pesquisas autorizadas são de arqueologia de salvamento ""a "arqueologia de contrato". Exigência legal do licenciamento ambiental de uma obra, esse tipo de pesquisa consiste em extrair o máximo de informação possível de sítios que serão destruídos por estradas, hidrelétricas ou por projetos de mineração
Na semana passada, por exemplo, quando a presidente Dilma apertou o botão que abria as comportas da usina hidrelétrica de Santo Antônio, condenou ao afogamento centenas de petroglifos (murais gravados em pedra pelos índios na pré-história).
Em Santo Antônio, uma empresa contratada por R$ 10 milhões levou 60 arqueólogos ao canteiro de obras e registrou 52 sítios. "O que conseguimos fazer lá não seria possível na academia", disse à Folha Renato Kipnis, pesquisador da USP e arqueólogo da empresa Scientia, que coordenou o resgate em Rondônia.
Nem todos os sítios têm a mesma sorte. O Iphan frequentemente recebe denúncias de empreendedores que, espremidos pelo calendário das obras, atropelam o trabalho dos arqueólogos.
Em outros casos o problema são os próprios arqueólogos: como a profissão não é regulamentada, qualquer pessoa com especialização pode abrir uma empresa e disputar o mercado.  A SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira) propôs recentemente a criação de uma "autorregulamentação" da profissão de arqueólogo. A ideia é que profissionais qualificados ganhem um "selo" para disputar contratos.
A proposta encontra resistências na comunidade, que diz que faltam arqueólogos: são apenas 700 no país.

Fonte: Folha de São Paulo 10/07/2011

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